"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 15 de março de 2011

A vida nas ruas de Paris no século XVII

Visita com a avó, Louis Le Nain 

A Paris do século XVII se caracterizava pelo intenso movimento nas ruas e também por sua sujeira e mau cheiro. Acontecia de tudo nas estreitas e tortuosas ruas parisienses. Além disso, o espaço urbano era muito reduzido para abrigar tanta gente.

Todo tipo de ambulante - de vendedores de galinhas, patos e ovos, até amoladores de facas, engraxates, carpinteiros, sem esquecer os alfaiates, padeiros, artistas de várias modalidades, entre outros - circulava pelas ruas da cidade gritando o preço de suas mercadorias e serviços.

Muitas vezes a multidão tinha de dar passagem às charretes, o que fazia com que as pessoas se espremessem ainda mais. Sorte daquele que pudesse evitar a lama que era jogada pelas rodas das carroças dos camponeses, vindos do campo para vender seus produtos na cidade.

Outra façanha dos moradores de Paris: evitar as fezes, não só dos animais mas também das pessoas. É bom lembrar que naquela época as ruas eram desprovidas de calçadas e esgotos. Para completar, as casas não tinham banheiro nem sistema de esgotos. Água, só na casa dos nobres. O lixo era jogado pela janela. Azar daquele que por ali passasse.

À noite, nas ruas desertas, era muito arriscado circular (é bom ressaltar que a maioria das pessoas tinha a rua como único divertimento). A quantidade de miseráveis era tanto que os agentes do rei não conseguiam controlá-los. A fome aumentava ainda mais a revolta dessa gente.

O que fazer com tanta indigência? Para o poder real, o pobre era um delinquente em potencial, e o remédio para a pobreza não seria de ordem social e sim de ordem policial. Ou seja, cabia à polícia "limpar" a cidade e controlar os rebeldes. Como medida para isso, nas principais esquinas de Paris foram afixados cartazes com uma lei cujo princípio rezava: "É proibido mendigar pelas ruas" [o curioso é que em 1995 essa lei voltou a ter validade em alguns lugares da França, sobretudo em pontos turísticos de Paris]. Todo miserável poderia ser recolhido a um "albergue geral". Lá, ele ficava em regime de internato, o que na prática tornava o lugar uma espécie de penitenciária.

As batidas policiais, visando à prisão dos pedintes, eram feitas por uma brigada especialmente criada para essa finalidade. Uma vez no "albergue", o mendigo era forçado a trabalhar sem ser remunerado e dormia com mais quatro num pequeno colchão. Havia castigos impiedosos para o menor gesto de rebelião. As refeições eram compostas de pão, água e um pouco de sopa.

Adaptado de Nicolas Wintz e René Ponthus. La France de Louis XIV. Bruxelas: Casterman, 1989. p. 42-4.

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