"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 26 de abril de 2011

Amor e sexualidade no mundo romano

Cena de amor. Afresco na Casa del Centenario, Pompéia

Amor é um tema delicado [...], varia tanto de sociedade a sociedade e de época a época. [...] as mulheres romanas, à diferença das gregas, não viviam tão apartadas e interagiam mais com os homens. [...] as sociedades patriarcais como a grega e a romana estavam baseadas no domínio masculino e alguns estudiosos chegam a afirmar que se trataria de "sociedades do estupro". Os estudiosos divergem, no entanto, quanto à caracterização das relações entre homens e mulheres no mundo romano.

Todos concordam que as mulheres romanas tinham relativamente uma inserção social bastante ampla, participavam de banquetes e reuniões sociais importantes, à diferença das esposas gregas, tinham direito de propriedade e podiam ser até mesmo proprietárias de empresas. Embora, por definição, não pudessem votar ou ser eleitas, as inscrições encontradas na cidade de Pompéia mostram que as mulheres não se furtavam a apoiar, com cartazes, seus candidatos aos cargos públicos, o que está a demonstrar sua influência social. Também graças à Arqueologia, possuímos alguns documentos escritos por romanas [...]. Entre os documentos epigráficos escritos por mulheres, há poemas amorosos, tanto de lavra erudita como popular. [...]

[...]

Na literatura latina, as mulheres aparecem de forma contraditória. Muitos autores foram francamente misóginos, apresentando uma visão bastante crítica da mulher ainda que, mesmo nesses casos, se possa entrever a importância social das mulheres. [...]

[...]

Mas nem todos os autores romanos eram misóginos, pelo contrário. Ovídio [...] escreveu:

Quero ver a mulher de olhos rendidos,
a exausta mulher que desfalece
e que por muito tempo não consente
que lhe toquem no corpo dorido de prazer.

[...] na elite romana, aceitava-se como natural que um homem mantivesse relações com mulheres e com homens, em especial, o patrão com seus escravos e escravas. [...]

Cena erótica: dois homens e uma mulher. Termas de Pompéia 

Sabemos, por meio de pinturas e grafites parietais, que os pobres namoravam, frequentavam prostíbulos. E há mesmo indícios de que havia mulheres de posses que pagavam pelos serviços de prostitutos.

Para os romanos, ricos ou pobres, a sexualidade também era intimamente ligada à religiosidade e, em particular, ao culto à fertilidade. Em toda a parte, encontravam-se objetos fálicos, nas paredes das casas, nos cruzamentos, como pingentes em colares, em anéis. As casas tinham, no telhado, falos nas extremidades [...]. Até mesmo as campainhas das casas romanas podiam ser em forma de um ou mais falos, que o visitante tinha de tocar para fazer o ruído e fazer-se notar. Essa presença generalizada de membros eretos causa, nos modernos, uma certa surpresa, um estranhamento de que os romanos não tivessem vergonha de tão explícita referência sexual. Para os romanos, contudo, o falo era associado à magia da reprodução e, por isso, era considerado um potente amuleto contra o mau-olhado e o azar. Sua presença nos limites, como no telhado, nas soleiras e nas campainhas, tinha essa função protetora contra as más intenções. As próprias relações sexuais, pelo mesmo motivo, eram consideradas abençoadas e propiciatórias e até mesmo a referência verbal ao ato sexual tinha essas conotações. Nós herdamos dos romanos a figa - que quer dizer vagina, em latim popular - como gesto que representa a relação sexual e que, por isso, traz a sorte. [...]

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2011. p. 103-108. (Repensando a História).

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