"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Instituições pan-helênicas: deuses, oráculos e festas

Templo de Apolo, Delfos

Os gregos da antiguidade nunca constituíram uma nação, nem mesmo um povo único. Eram indivíduos mais ou menos ligados pela mesma etnia e, principalmente, por laços espirituais, constituídos pela língua, pelas ideias e pelas instituições religiosas. Entre eles, prevaleciam rivalidades e conflitos, discórdias e ódios: só souberam coligar-se temporariamente diante do perigo exterior. Tudo que não era grego, todo estrangeiro era por eles qualificado de "bárbaro"; se o grego era de outra cidade-Estado, naõ era bárbaro, mas meteco.

Daí o interesse em se conhecerem as crenças religiosas que os ligavam, crenças que sua imaginação tornava artísticas e poéticas. Politeístas, representavam seus deuses sob formas humanas. Eram imortais estas divindades, mas sujeitas às paixões, e mantinham entre si relações humanas. A cada um deles cabia um certo número de aventuras fantásticas, cujo total veio a constituir a Mitologia grega.

Os deuses primitivos representavam, como no Oriente, forças da natureza: Urano, o céu; Cronos, o tempo; Gaia, a terra. O deus principal, filho de cronos, era Zeus, sábio e justo, distribuidor dos bens e dos males, senhor do Olimpo e esposo de Hera. Os filhos de Zeus eram Hermes, seu mensageiro e deus do comércio; Apolo, deus do sol e da música, tocador de cítara; Ártemis, deusa da lua, caçadora; e Hefaístos, feio e coxo, deus do fogo e dos vulcões. Eram irmãos de Zeus, o deus dos mares, Posseidon, e o dos infernos, Hades. Os grandes deuses da atividade humana eram Palas-Atena, deusa da inteligência, inspiradora das artes; Afrodite, deusa da beleza e do amor; Ares, deus da guerra. Eram também filhos de Zeus.

Ao lado dos deuses, os gregos rendiam culto aos heróis, semideuses ou mesmo a antepassados lendários como Héracles, célebre pelas suas doze façanhas clássicas; Teseu, vencedor do Minotauro de Creta e libertador de Atenas; Édipo, vencedor da Esfinge; Jasão, conquistador do tosão de ouro. A guerra de Tróia também sucitou o aparecimento de heróis.

Outras entidades povoaram o Panteão grego, como as Musas, as Ninfas, as Nereidas, os Sátiros, os Tritões.

Cada cidade possuía seus deuses locais protetores, mas os deuses olimpianos eram objeto de culto em todas as comunidades gregas. Nos altares dos templos, eram feitas libações, seguidas de sacrifícios de animais, de oferendas diversas e de preces. Os gregos areditavam em presságios e consultavam oráculos. Os oráculos eram consultas à divindade, no templo consagrado a seu culto. Em Delfos, ao pé do monte Parnaso, o templo de Apolo era procurado por toda a Grécia. As respostas eram dadas pelas palavras enigmáticas da Pítia incumbida de interpretar os conselhos de Apolo. Tudo podia ser objeto de consultas e o Oráculo gozava de grande influência política.

O oráculo de Zeus, em Dodona, no Épiro, era também procurado. Em Epidauro era visitado pelos doentes o santuário de Asclépio (Esculápio). Ao culto de Demeter, deusa das messes, era consagrado o templo de Elêusis, cujos mistérios só eram revelados aos iniciados, que aí recebiam conselhos a respeito do seu futuro.

As insituições religiosas não eram os únicos laços que uniam as cidades-Estado da Grécia. Em honra aos deuses olimpianos, existiam também grandes jogos e festas periódicas que reuniam gregos de todas as comunidades, desde o Ponto-Euxino às Colunas de Hércules, e constituíam tréguas nas lutas internas.

Os principais eram os jogos nemeanos, na Argólida, em honra a Zeus; os jogos istmicos em Corinto, em honra a Posseidon; os jogos píticos em Delfos, em honra a Apolo; e os afamados jogos olímpicos em honra a Zeus, celebrados em Olímpia, na Élida.

Os jogos olímpicos, celebrados todos os quatro anos, eram os mais frequentados e o período quatrienal era chamado de olimpíada, servindo de calendário para datar acontecimentos. Duravam cinco dias as festas, reunindo milhares de pessoas em seu estádio e no seu hipódromo. No primeiro destes locais realizavam-se as corridas a pé e as lutas, no segundo as corridas de cavalo e de carros. Havia provas de salto, de lançamento de discos e outras. Os vencedores eram coroados, aclamados e voltavam como heróis às suas respectivas cidades.

Na ilha de Delos, as festas tinham caráter diferente: música, canto e dança eram suas modalidades principais.

Mas Delos era um centro principalemnte político, que Atenas dominou, fazendo da ilha uma colônia clerúquia, isto é, cujos habitantes conservavam a cidadania ateniense. Sob o nome de Confederação de Delos, formaram-se duas ligas marítimas. A primeira, em 447 a.C., visava à manutenção de uma defesa eficiente contra os persas. A segunda, cem anos mais tarde (377 a.C.), era destinada a enfrentar as agressões espartanas. Somente depois da ocupação macedônica, voltou Delos a ser uma ilha independente e santuário rico dos gregos insulares. Sob os romanos, foi franqueado o seu porto, que cresceu consideravelmente com a queda de Corinto. [...]

As festas religiosas da Grécia eram organizadas pelas Anfictionias, antigas associações que reuniam gregos de todas as origens. O Conselho dos Anfictiãos era formado por representantes de todas as comunidades: organizava os jogos píticos e administrava os bens dos deuses. Sua autoridade no mundo helênico era considerável.

CARVALHO, Delgado de. História Geral 1: Antiguidade. Rio de Janeiro: Record, s.d. p. 137-140.

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