"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 2 de abril de 2011

Roma imperial

Os cidadãos ricos da época imperial romana apreciavam possuir as paredes do seu triclinium (sala de jantar) decoradas com pinturas a fresco. Foram encontrados numerosos painéis em Roma, Pompéia, Herculano e Estábia. Residência dos Vetti, Pompéia.

[Augusto, primeiro dos césares, fundador do Império] Concentrando todo o poder em suas mãos, Augusto soube dar unidade a um vasto território habitado por populações das mais diversas raças, credos, costumes, e promover seu desenvolvimento.

Suas primeiras medidas foram, pois, de cunho administrativo, destinadas a assegurar a centralização do governo. Em vista disso, dividiu as províncias em dois grupos: as fronteiriças, chamadas imperiais, que por medida de segurança, ficaram sob seu controle direto, guarnecidas por tropas permanentes e administradas por um governador militar; as restantes, chamadas senatoriais, que ficaram sob o controle do Senado dirigidas por um procônsul. Confiou a administração de Roma a prefeitos que, em número de três, eram encarregados de manter a ordem, abastecer a cidade e protegê-la de incêndios ou de assaltos.

Augusto preocupou-se mais em guarnecer as fronteiras do Império do que ampliá-las. As poucas conquistas feitas por suas legiões foram realizadas com o objetivo de dar maior segurança e coesão a todo o território romano.

O governo de Augusto durou 44 anos (de 27 a.C. a 14 d.C.), inaugurando um longo período de calma e prosperidade, que passou à História com o nome de Pax Romana. Nesse período as atividades agrícolas, comerciais, culturais e artísticas receberam um impulso extraordinário.

Através das rotas comerciais marítimas ou terrestres, eram transportados para todo o Impe´rio cereais do Egito, do norte da África, da Sicília; madeiras e produtos agrícolas da Gália e da Europa Central; ouro, prata, chumbo da península Ibérica; cobre da ilha de Chipre; minério de ferro das regiões dos Balcãs; pedras preciosas, sedas, perfumes, especiarias, artigos de luxo procedentes da China e da Índia, com os quais os romanos mantinham intenso comércio.

A firme organização administrativa e os múltiplos benefícios trazidos pelos intercâmbios comerciais permitiram ao império aumentar a rede de estradas, o número de aquedutos e pontes. Em Roma foram construídas numerosas termas (banhos públicos), vários templos, teatro, um novo foro, um altar à paz (ara pacis) e, por toda a cidade, multiplicaram-se as fontes, traço da civilização romana que se conservou através dos tempos; até hoje Roma orgulha-se de suas numerosas fontes.

O período de paz despertou um grande interesse pela cultura e pelas artes, interesses que não puderam desenvolver-se durante a longa fase republicana marcada por guerras de conquista. Augusto incentivou as realizações de homens de talento, escritores e artistas, os quais contaram, ainda, com especial proteção de Mecenas, grande amigo de Augusto, cidadão riquíssimo, benfeitor das artes (daí o termo mecenas referir-se ainda hoje a um indivíduo que patrocina, com sua riqueza, o desenvolvimento das artes).

A unidade do Império Romano foi obra do extraordinário talento de Augusto. O retorno da ordem, da paz, da prosperidade a toda a bacia do Mediterrâneo deu-lhe enorme popularidade e mereceu-lhe a confiança e o respeito de todos os seus súditos, tanto na capital do Império como nas mais distantes províncias. O oitavo mês do ano recebeu seu nome (agosto, de Augustus) e o povo expressou sua gratidão reverenciando-o como ser divino. À sua morte o Senado elevou-o à categoria de deus entre os demais deuses de Roma e o período de seu governo chegou até nós com o nome de Século de Augusto.

[O apogeu de Roma imperial] Aceito com entusiasmo pelo povo, reconhecido pelo Senado, o regime imperial implantado por Augusto teve longa duração. A exemplo de Augusto, alguns dos imperadores que lhe sucederam empenharam-se também em administrar sabiamente as províncias, em embelezar Roma com novas construções. Para proteger o mundo romano da ameaça externa, o limes foi estendido em todas as direções e, ao longo das fronteiras, multiplicaram-se as guarnições militares.

Os primeiros dois séculos após a morte de Augusto constituíram o período mais brilhante da história de Roma, aquele em que sua civilização atingiu o auge. A cultura romana irradiou-se pelo Ocidente; as novas cidades que surgiram basearam-se, em traçado, construções, decoração, nos modelos romanos; à difusão de leis, insitutições e costumes romanos seguiu-se, com a abertura de numerosas escolas, a difusão do latim, sobretudo na Gália e na pensínsula Ibérica.

O Império consolidou suas bases concedendo a cidadania romana aos homens livres de todas as províncias, e atingiu ainda sua máxima extensão coqnuistando a Britânia (atual Inglaterra), a Dácia (atual Romênia), a Trácia (parte das atuais Bulgária, Grécia e Turquia europeia), a Mauritânia (atuais Argélia e Marrocos), a Mesopotâmia.

[Os imperadores romanos] Sucederam a Augusto, até o fim do século II, três dinastias: a primeira composta por imperadores romanos de família patrícia; a segunda por imperadores de família plebéia; a terceira, integrada por imperadores naturais de províncias do ocidente. Sobretudo os imperadores dessa terceira dinastia, exceto o último, distinguiram-se como excelentes administradores: a rede de estradas e o próprio território romano atingiram sua extensão máxima; a proteção das fronteiras mereceu cuidados especiais; as cidades de todas as províncias conheceram grande bem-estar e prosperidade; Roma alcançou brilho e projeção sem par.

No século III, porém, importantes acontecimentos ameaçaram o Império Romano, crises internas e perigos externos, que terminaram minando sua força e prestígio e provocando o início de sua decadência. Um desses acontecimentos foi a difusão de uma crença religiosa surgida na Judéia, a qual acabou impondo-se a todo o Ocidente e a boa parte do oriente: o cristianismo. 

Dinastia
Nome
Data
Em Roma
Fora de Roma

Júlio-Cláudia
Tibério
14
Aumentou o tesouro. No fim da vida mostrou-se cruel e despótico.
Boa administração das províncias.


Calígula
37
Desequilibrado, cometeu atos de violência. Acabou assassinado.



Cláudio
41
Bom administrador, cercou-se de conselheiros capazes. Mas, de caráter fraco, deixou-se dominar pela esposa Agripina e foi por ela assassinado.

Conquista do sul da Britânia (48 d.C.)

Nero
54
Extremamente violento e desequilibrado. Mandou assassinar sua mãe Agripina e seu meio-irmão Britânico. Arruinou as finanças do Estado. Deposto por uma revolta chefiada por Galba, governador da Hispânia, suicidou-se.




De 68 a   69
Com a morte de Nero ocorreram agitações e sangrentas lutas pela tomada do poder entre os chefes de exércitos provinciais. Em um ano sucederam-se Galba, Otão e Vitélio. Finalmente, um general plebeu, Vespasiano, de origem camponesa, tomou o trono e restaurou a ordem.


Flávia
Vespasiano
69
Reorganizou a administração e reconstituiu o tesouro. Construção do Anfiteatro Flávio (Coliseu).
Submissão de parte da Germânia, entre o Reno e o Danúbio.   Revolta da Judéia. Destruição do templo de Jerusalém.


Tito
79
Conhecido por sua bondade.
Erupção do Vesúvio e destruição das cidades de Pompéia e   Herculano.


Domiciano
81
Possuía certas qualidades administrativas mas acabou revelando-se um déspota, e foi assassinado.
Conquistada a Britânia até a fronteira da Escócia. Início da construção do limes ao longo do Reno.

Antonina
Nerva
96
Escolheu para seu sucessor o filho adotivo Trajano. O regime de adoção é a característica dominante desta dinastia.



Trajano
98
Natural da Hispânia.
Máxima extensão do império com a conquista da Dácia.


Adriano
117
Espanhol, filho adotivo de Trajano. Reformou o Direito   Romano.
Fortificação das fronteiras com a construção, na Britânia, de uma muralha (Muralha de Adriano) e do limes ao longo do Danúbio.


Antonino Pio
138
Gaulês; filho adotivo de Adriano. Excelente administrador, protetor da justiça, das artes e ciências.   Deu seu nome à dinastia.

Reforçadas as guarnições   militares nas fronteiras; completadas as fortificações.

Marco Aurélio
161
Filho adotivo de Antonino Pio. Imperador filósofo, famoso por sua cultura.

Contido o avanço de bárbaros nas fronteiras do Danúbio.

Cômodo
180
Filho de Marco Aurélio, único dos imperadores desta dinastia a herdar o título por nascimento. Negligenciou a administração; revelou-se despótico; foi assassinado.




  


HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 101-105.

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