"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 5 de janeiro de 2013

A resistência indígena nos Estados Unidos

Young Omahaw, War Eagle, Little Missouri, and Pawnees, Charles Bird King

Os indígenas da América anglo-saxônica jamais atingiram o estágio de desenvolvimento dos astecas, incas e maias. Em quase sua totalidade eram nômades ou seminômades, vivendo basicamente de caça, pesca e agricultura temporária. 

Os puritanos na Nova Inglaterra, com sua concepção de predestinação por Deus a colonizar o Novo Mundo, tratavam os índios com desdém no início da colonização. O puritano não se misturava com o índio. Deixava-o viver a sua vida. Misturar-se com o índio significava para o puritano "tornar-se tão reles quanto ele". Mais tarde, os colonizadores trataram de destruir os índios, quando passaram a disputar a terra com eles. Índio bom, no dizer de um célebre americano, passou a ser índio morto. Quando a Marcha para o Oeste se intensificou, os colonos lançaram-se sobre os indígenas para deslocá-los e liquidá-los como meros obstáculos em seu caminho. Senhoras das terras que logo despertavam a cobiça do homem branco, as tribos deslocavam-se pelas florestas a leste do Mississípi, pelas zonas litorâneas e pelas imensas pradarias e planícies do Centro e do Oeste. Os colonos, através da violência, passaram a usurpar as terras indígenas, à medida que se expandiam para o Oeste.

A ideia de uma mudança geral das tribos para as grandes planícies além do Mississípi, consideradas durante muito tempo como inabitáveis pelo branco, foi adotada oficialmente na presidência de Monroe e levada a efeito de forma enérgica na presidência de Jackson, que foi autorizado pelo Congresso a permutar terras do Oeste pelas antigas propriedades indígenas. Essas "reservas indígenas" estendiam-se do Canadá ao Texas. A transferência compulsória dos indígenas provocou um forte e obstinado movimento de resistência por parte desses povos, levando a um resultado trágico, o que implicou a sua dizimação quase total. Os índios do Norte foram removidos sem grandes dificuldades. Mas no Sul, onde se concentravam as tribos maiores e mais desenvolvidas - creeks, choctaws, cherokees, cheksaves e semínolas - a resistência foi duradoura e obstinada.

As tribos derrotadas, mediante tratados assinados com o governo da União, recebiam indenizações em dinheiro pela expropriação de suas terras e o direito de propriedade efetiva sobre terras localizadas mais a oeste. Mas esses tratados tornavam-se letra morta com a vinda de novas levas de colonizadores, sendo os indígenas rechaçados ainda mais para oeste, apesar de sua resistência. A situação agravou-se mais, à medida que se valorizavam as zonas litorâneas do Pacífico e que avançavam as ferrovias transcontinentais.

Ao fim do processo de colonização do Oeste, apenas alguns núcleos indígenas puderam sobreviver, confinados em reservas, sem a mínima possibilidade de se integrar ao resto da nação, e ao mesmo tempo sem possibilidades de manter uma identidade enquanto povo, porque se encontravam profundamente aculturados.

CÁCERES, Florival. História da América. São Paulo: Moderna, 1986. p. 105.

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