"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

terça-feira, 23 de abril de 2013

As universidades medievais

A palavra universidade (do latim "universitas") significava, originariamente, corporação, associação, comunidade.

As universidades medievais foram, realmente, corporações intelectuais - de professores e alunos - destinadas ao ensino e à aprendizagem. Mais tarde veio a significar uma instituição educacional, constituída de uma escola de artes liberais (trivium e quadrivium) e de faculdades de ensino superior: artes, teologia, medicina e direito.


Encontro de doutores na Universidade de Paris. Manuscrito medieval. Artista desconhecido.


Estudos secundários (artes). Trivium: gramática, retórica e dialética (lógica). Quadrivium: aritmética, geometria, astronomia e música.  

O conteúdo das matérias era mais amplo do que pareciam indicar os seus nomes. Assim, por exemplo, a gramática incluía noções de latim e de literatura; a aritmética abrangia o estudo da teoria dos números; a geometria acrescentava noções de química e de física. O trivium estudava-se em 4 ou 5 anos e dava o título de "bacharel em artes", que não conferiam, porém, habilitação alguma. O quadrivium requeria mais 3 ou 4 anos de estudo, após os quais obtinha-se o título de "mestre em artes".

Estudos superiores. Para conseguir o título de doutor (em teologia, medicina ou direito), eram precisos ainda mais anos de estudo. "No fim da Idade Média tinha sido ampliado para 14 anos o curso que, em Paris, habilitava ao doutoramento em teologia; e o grau não podia ser conferido antes que o candidato tivesse, pelo menos, 35 anos de idade". Ambos os graus - mestre e doutor - eram títulos só de docência.

Os colégios. Para corrigir e disciplinar os turbulentos estudantes, organizavam-se os colégios: internatos anexos às Universidades, onde os alunos tinham de sujeitar-se a um duro regime de reclusão.

Com o tempo, os colégios tornaram-se centros autônomos, dentro da Universidade. Nasceu assim, por exemplo, a famosa Sorbonne (colégio fundado por Robert de Sorbon). Ainda hoje seguem este sistema (centros autônomos e independentes) as Universidades de Oxford e Cambridge.

Sistema de ensino. O método de ensino consistia na leitura de textos, feita pelo professor (daí o termo de "lente", professor). O mestre acrescentava comentários pessoais. Os alunos ouviam e tomavam notas. "Pouquíssimos estudantes medievais possuíam livros e raramente encontravam uma biblioteca onde pudessem tomá-los emprestados". As salas de aula eram, frequentemente, pouco favoráveis: úmidas, mal iluminadas e com acomodações precárias, sem conforto algum.

Difusão das Universidades. As Universidades começaram a difundir-se no século XII. A de Salerno é, talvez, a mais antiga (século X). A de Bolonha instalou-se em 1150. A de Paris, em fins do século XII. Vêm a seguir, em ordem cronológica, e entre as mais famosas: Oxford, Cambridge, Montpellier, Salamanca, Roma, Nápoles. Em Portugal, a Universidade foi fundada em 1290, no reinado de D. Dinis; e foi transferida, em 1307, de Lisboa para Coimbra. Na Alemanha, as universidades só apareceram em fins do século XIV (Praga, Viena, Heidelberg, Colônia).

O estabelecimento de universidades generalizou-se rapidamente na Europa. As cidades estimularam a fundação desses centros de cultura; Papas e reis concederam-lhes imunidades e privilégios. No fim da Idade Média, tinham sido fundadas, na Europa Ocidental, umas 80 universidades.

BECKER, Idel. Pequena História da Civilização Ocidental. São Paulo: Nacional, 1974. p. 290-292.

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