"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Conquista da América I: Os focos de irradiação da conquista espanhola na América

E eu vejo que o Reino em breve será destruído
Terá fim do México a soberania!
Eis que me afasto e choro
por ter decretado a este país
ser subjugado e totalmente aniquilado.
(Antigo canto fúnebre mexicano)

Iniciada desde a segunda viagem de Colombo, a Conquista resultou de empreendimentos que, sem obedecer a uma planificação sistemática, apresentaram-se estreitamente correlacionados: o descobrimento e a exploração de um território precediam a sua conquista que, uma vez concretizada, preparava as bases da colonização. Desse modo, a Conquista e a Colonização estabeleciam núcleos de ocupação permanente que serviram de centros irradiadores de novas expedições de conquista.

Nesse processo, o foco inicial foi a ilha de La Española (São Domingos), onde foram implantados os primeiros centros populacionais, destacando-se a cidade de Santo Domingo (atual Trujillo), fundada por Bartolomeu Colombo (1496). O afluxo de milhares de espanhóis para Santo Domingo, convertida em capital das autoridades coloniais, permitiu que dela partissem expedições de exploração, conquista e colonização das ilhas antilhanas e parte das terras do continente. Dentre outras, mencionam-se a conquista de San Juan de Porto Rico (1508), da Jamaica (1509) e de Cuba por Diego de Velásquez (1511). Com o tempo, Cuba acabou superando Santo Domingo devido a sua melhor posição estratégica. Embora as Pequenas Antilhas estivessem conquistadas por volta de 1516, inúmeras ilhas foram abandonadas pelos conquistadores atraídos pelas riquezas minerais existentes no continente; com isso, muitas ilhas passaram a abrigar piratas, corsários e contrabandistas de outras nacionalidades.

Outro importante foco de irradiação da Conquista foi o Panamá, a princípio conhecido como Verágua e depois Castilla del Oro. Expedições procedentes de La Española fundaram diversas cidades: Santa Maria de Antigua (também chamada de Nuestra Señora de la Antigua del Darién), por iniciativa de Vasco Nuñez de Balboa, a primeira cidade continental americana (1509); e Panamá, por Pedro Arias Dávila (1519). Em pouco tempo, a região converteu-se em ativo núcleo de projeção da Conquista para o norte, onde se chocou com as correntes originárias do México, e para o sul, onde se encontrou com outras provenientes da Venezuela, Colômbia e Rio da Prata. Mencionam-se, dentre outras, as expedições de Gil González Dávila, que conquistou a Nicarágua (1522) e de Juan Vásquez de Coronado, que se apoderou da Costa Rica (1524), sem esquecer as empresas de conquista do Mundo Inca.


Encontro entre Cortés e Montezuma. Artista desconhecido.

O México constituiu um terceiro foco de irradiação da Conquista. Após as fracassadas expedições de Hernández de Córdoba (1517) e de Juan de Grijalva, a região foi conquistada por Fernão Cortez, que dominou o Império Asteca (1519-1521). Conhecida desde então como Nova Espanha, suas principais cidades - Vila Rica de Vera Cruz, México e Acapulco - projetaram correntes conquistadoras para o norte, o sul e o oriente. Expedições terrestres ou marítimas enviadas às terras meridionais dominaram Honduras, El Salvador e Guatemala. Partindo de Acapulco, os espanhóis anexaram as Molucas e as Filipinas, o que possibilitou a obtenção de produtos orientais levados à Espanha - via México - pelo galeão de Manila. O avanço para o norte, efetuado por terra ou através do Golfo do México e litoral do Pacífico, conduziu à conquista da Califórnia e outros territórios do noroeste dos atuais EUA.

"A terra queimará e haverá grandes círculos brancos no céu. A amargura surgirá e a abundância desaparecerá. A terra queimará e a guerra de opressão queimará [...] Será o tempo da dor, das lágrimas e da miséria. É o que está por vir."
(Livro de Chilam Balam de Chumayel. ROMANO, R. Os Mecanismos da Conquista Colonial: Os Conquistadores. São Paulo: Perspectiva, 1973. p. 69)

O Peru, cuja conquista foi consumada por Francisco Pizarro e Diego de Almagro (1531-1533), em expedições partidas do Panamá, igualmente funcionou como importantíssimo núcleo irradiador da expansão conquistadora. Em 1535, Pizarro fundou Ciudad de los Reyes ou Lima, convertida em capital do novo domínio espanhol. Do Peru saiu para o norte uma corrente conquistadora que, sob o comando de Sebastián de Benalcázar (ou Belalcázar), se apoderou do Reino de Quito (1533) e do litoral colombiano no Pacífico, onde foram fundadas Popayán e Cali (1536), prosseguindo seu avanço, atingiu o Planalto de Bogotá (1539), onde se chocou com as expedições de Gonzalo Giménez de Quesada (procedente de Santa Maria, no litoral colombiano no Atlântico) e de Nicolás Federman, que saíra de Coro, na Venezuela. Para o sul, a Conquista irradiou-se com a incorporação do Alto Peru (atual Bolívia) por Hernán e Gonzalo Pizarro (1538-1544), e do Chile, tentada por Diego de Almagro (1535-1537) e continuada por Pedro de Valdívia (1540-1553); apesar da fundação de Santiago del Nuevo Extremo (1541), La Serena (1544), Concepción del Nuevo Extremo (1550) e Valdívia (1552), a Conquista foi precária devido à resistência dos índios araucanos. Do foco peruano igualmente partiram expedições para o Oriente - resultando na descoberta de diversas ilhas do Pacífico - e o Ocidente, através do Amazonas, atingindo o Atlântico: Francisco de Orellana (1539-1542) e Lope de Aguirre (1559-1561).

Expedição de Almagro ao Chile, Pedro Subercaseaux

O Rio da Prata foi outro foco de dispersão da Conquista. De Buenos Aires - fundada uma primeira vez por Pedro Mendoza, em 1536, e uma segunda vez por Juan de Garay, em 1580 - e, posteriormente, de Assunción del Paraguay, fundada por Juán Salazar de Espinosa (1537), projetaram-se linhas de penetração sobre os atuais territórios do Paraguai, Uruguai e Argentina. Para a Argentina convergiram expedições partidas do Chile, resultando na conquista das regiões de Cuyo e Tucumán, onde foram fundadas Santiago del Estero, Mendoza e San Juán.

Partindo das Antilhas ou da Espanha, expedições conquistaram territórios que formam hoje a Colômbia e a Venezuela, sendo importantes núcleos de expansão Santa Marta, Coro e Cartagena de Índias. Santa Marta, fundada por Rodrigo de Bastidas (1525) no litoral colombiano, foi o ponto de partida das empresas que, através do Rio Madalena, atingiram o Planalto de Bogotá em busca do Eldorado; sobressaiu a de Gonzalo Giménez de Quesada, que fundou Santa Fé de Bogotá (1538) e denominou a região de Nova Granada, nome pelo qual foi conhecida no Período Colonial. Igualmente na Colômbia uma corrente de penetração, saída do Panamá, avançou pelo litoral do Mar de Cartagena de Índias (1533). A Venezuela, onde Juan de Ampués fundara Santa Ana de Coro (1527), por algum tempo (1528-1546) foi concedida aos Welser, banqueiros alemães a quem o imperador Carlos V devia enorme importância em dinheiro. Embora fundassem Maracaíbo e realizassem inúmeras expedições ao interior, seus empreendimentos não fizeram avançar a Conquista, o que explica a anulação das concessões feitas anteriormente. A Conquista, desde então, progrediu, sobressaindo-se no interior como centros dispersores Tocuyo e Santiago de León de Caracas.

AQUINO, Rubim Santos Leão de et alli. História das Sociedades Americanas. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1990. p. 63-65.

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