"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Egito: a arte da imortalidade

Em vista da obsessão da sociedade egípcia com a imortalidade, não é de surpreender que a arte tenha se mantido sem mudanças por três mil anos. Sua mais alta preocupação era garantir uma vida após a morte confortável para seus soberanos, que eram considerados deuses. A colossal arquitetura e as obras-de-arte existiam para cercar o espírito do faraó de glória eterna.


"Grande Pirâmide de Queóps", Gizé.

Nessa busca de permanência, os egípcios definiram o essencial para uma grande civilização: literatura, ciências médicas e alta matemática. Não apenas desenvolveram uma cultura impressionante - apesar de estática - mas, enquanto outras civilizações nasciam e morriam com a regularidade das cheias do Nilo, o Egito sustentou o primeiro estado unificado de grande porte durante três milênios.

Muito do que se conhece sobre o Egito provém das tumbas que restaram. Como os egípcios acreditavam que o ka, o espírito, do faraó era imortal, depositavam em sua tumba todos os seus bens terrenos para que ele os usasse na eternidade. As pinturas e os hieróglifos nas paredes eram uma forma de inventariar a vida e as atividades diárias do falecido nos mínimos detalhes. Estátuas do faraó ofereciam uma morada alternativa para o ka, caso o corpo mumificado se deteriorasse e não pudesse mais hospedá-lo.

A pintura e a escultura obedeciam a padrões rígidos de representação da figura humana. Em muitos quilômetros de desenhos e entalhes em pedra, a forma humana é representada em visão frontal do olho e dos ombros, e em perfil de cabeça, braços e pernas. Nas pinturas em paredes, a superfície é dividida em painéis horizontais separados por linhas. A figura despojada, de ombros largos e quadris estreitos, usando adorno na cabeça e tanga, posa rigidamente com os braços para os lados e uma perna adiante da outra. O tamanho da figura indica sua posição: os faraós são representados como gigantes sobressaindo entre criados do tamanho de pigmeus.


"Cena de caça de aves selvagens". Tumba de Nebamun, Tebas. c. 1450 a.C.

Feitas para durar eternamente, as estátuas eram esculpidas em substâncias duras, como granito ou diorito. Sentadas ou em pé, tinham poucas partes protuberantes que pudessem se quebrar. A pose era sempre frontal e bissimétrica, com os braços próximos ao torso. A anatomia humana era, no máximo, uma aproximação.


"Nefertiti". c. 1360 a.C.

Uma das oitenta pirâmides remanescentes, a Grande Pirâmide de Queóps, em Gizé, é a maior estrutura em pedra de todo o mundo. Os antigos egípcios nivelaram sua base de cerca de 52 quilômetros quadrados - um quadrado perfeito - com tanta maestria que o ângulo sudeste é apenas um centímetro mais alto que o ângulo noroeste. O interior é massa praticamente sólida de lajes de calcário, o que exigiu excelentes técnicas de engenharia para proteger as pequenas câmaras mortuárias do peso maciço das pedras acima. O teto da Grande Galeria foi construído em camadas e escorado, enquanto a câmara do faraó recebeu um teto de seis camadas de granito sobre compartimentos separados, para aliviar a tensão e deslocar o peso dos blocos diretamente acima. Construída em 2600 a.C. para durar para sempre, permanece até nossos dias.


"Grande Pirâmide de Quéops", Gizé.

STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 8-10.

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