"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Hospitais, igrejas e prostíbulos na capital lisboeta na época dos Descobrimentos

As padeiras, José Malhoa

Havia vários hospitais na cidade, uma vez que eram mais do que necessários para abrigar, entre outros enfermos, alguns dos debilitados passageiros e tripulantes que chegavam nos 1.500 navios que demandavam, mensalmente, o porto lisboeta. O maior era o de Todos os Santos, construído no Rossio, em 1492, próximo à principal artéria da cidade, a rua Nova dos Mercadores, onde estavam instaladas as mais importantes casas de comércio de especiarias.

O fado, José Malhoa

A vida espiritual da população era orquestrada por várias igrejas, espalhadas pelas partes alta e baixa da cidade. A mais importante era sede do bispado, a sé de Lisboa, uma catedral gótica, construída em 1150, por ordem de D. Afonso Henriques, sob as ruínas de uma mesquita. Ela seria danificada por dois tremores de terra, no século XIV, e, finalmente, devastada pelo terremoto de 1755, que destruiria boa parte de Lisboa e obrigaria o marquês de Pombal a reconstruir suas ruas, no traçado reto que obedecem ainda hoje.

A religiosidade do povo português, expressa pela imensa quantidade de igrejas, tornava habitual cruzar pelas ruas com procissões ou festejos de santos, ao passo que comemorações profanas estavam terminantemente proibidas.

Os bêbados ou Festejando o S. Martinho, José Malhoa

Entretanto, a principal diversão dos fidalgos era freqüentar bordéis e tavernas. Recusar um convite de um nobre para ter com prostitutas era considerado uma ofensa grave. Outro público que freqüentava com assiduidade o ambiente eram os marujos, sempre famintos de companhia feminina, após meses no mar. A ampla demanda pelo serviço era acompanhada, igualmente, de uma numerosa oferta. Existiam bordéis em número igual ou superior ao de igrejas, enquanto as tavernas talvez somassem o dobro da quantia.

Cena de bordel, Brunswick Monogrammist

Sendo freqüente o vai-e-vem de forasteiros, existiam em Lisboa inúmeras hospedarias. A maioria delas era muito simples, confundindo-se com os bordéis, em cujos quartos não havia mais do que uma cama, uma pequena mesa, uma cadeira, uma bacia com água e um penico, para que os hóspedes mais exigentes cuidassem da própria higiene.

Artistas itinerantes em um bordel, Brunswick Monogrammist

Os fidalgos e marujos que compartilhavam as prostitutas quase sempre eram brindados com as mais diversas doenças venéreas, o que fazia muitos evitarem o contato com profissionais, apesar da grande quantidade de bordéis disponíveis. A alternativa mais “à mão” era cortejarem as muitas senhoras cujos maridos estavam ausentes, servindo nas colônias e nos navios portugueses.

PESTANA, Fábio Ramos. Por mares nunca dantes navegados: a aventura dos Descobrimentos. São Paulo: Contexto, 2008. p. 45-46.

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