"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O poder monárquico e o ódio do povo

Retrato de um sans-culotte, Louis-Léopold Boilly

Para o imaginário popular da Idade Moderna, apesar do avanço do poder monárquico, os reis não eram percebidos como exploradores e opressores. Ao contrário, as pessoas comuns pareciam acreditar que aqueles que os subjugavam faziam-no à revelia do rei.

Segundo o historiador inglês Peter Burke, o ódio popular deslocava-se para os grupos da classe média: advogados, funcionários (do rei), comerciantes e médicos. A atuação desses profissionais era percebida como contrária ao povo. Afinal, representavam problemas com a justiça, a cobrança de taxas, o custo de vida, a saúde e a morte. Nem sempre ficava claro que esses profissionais agiam em nome do rei ou em função do que estabeleciam as instituições oficiais.

Os funcionários - conselheiros ou executantes das deliberações governamentais - eram odiados, principalmente o coletor de impostos. Da França, onde essa coleta era arrendada, proveio a expressão engabeladores (cobradores da gabela, imposto sobre o sal), que indica os que enganam e expoliam o povo. Palavras como tiranos, canibais, sugadores de sangue eram utilizadas para designar os coletores, muitas vezes atacados ao executar as cobranças.

Também eram alvo do ódio popular os comerciantes, sobretudo os que emprestavam dinheiro a juro ou os que açambarcavam cereais ou detinham monopólios, e os médicos, que aparecem nos contos e peças populares como ignorantes, pedantes, dissimulados e gananciosos.

No entanto, houve também heróis da classe média. Santo Ivo foi um advogado honesto, considerado mediador entre ricos e pobres.

NEVES, Joana. História Geral - A construção de um mundo globalizado. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 266.

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