"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Religião na Grécia Antiga

A carruagem de Zeus. Projeto Gutenberg

A religião grega foi politeísta. Através dos tempos, o povo grego criou estórias e lendas a respeito de vários deuses e de sua origem. A essas estórias e lendas, cheias de imaginação e de fantasia, chamamos mitos, e ao conjunto de mitos, mitologia.

Interpretando os mitos, poetas e artistas foram sucessivamente esboçando características peculiares a cada um dos deuses, fixando sua imagem em pinturas e esculturas.

Os deuses gregos, comparados aos deuses de outros povos da Antiguidade que os precederam, não eram distantes, misteriosos; assemelhavam-se aos homens e viviam entre eles. Como os homens, tinham virtudes e defeitos, franquezas e paixões; eram, porém, mais fortes, e imortais; embora invisíveis, podiam aparecer aos mortais sob forma humana. Por isso a mitologia grega não pode ser considerada religião no sentido que nós lhe emprestamos.

Os deuses estavam por toda parte: no céu, no mar, sobre a terra e nas profundezas do solo.

No céu os deuses se agrupavam em torno de Zeus, principal deus, soberano do mundo, que reinava no monte Olimpo, a mais alta montanha da Grécia. Senhor dos fenômenos atmosféricos, dos rios, da chuva, tudo via, tudo sabia, controlando as ações humanas e vigiando as dos demais deuses. Era protetor de toda a Grécia, embora cada cidade tivesse seu deus especial.

Zeus. Pintura romana em Pompeia, Casa dei Dioscuri. Artistas desconhecidos

Junto a Zeus encontrava-se Hera, sua esposa, deusa do casamento, da maternidade, das crianças e dos lares; seus filhos: Apolo - também chamado Febo - deus da luz solar, das profecias e das artes; Ártemis, inicialmente deusa da claridade lunar, mais tarde protetora das florestas e da caça; Hermes, mensageiro dos deuses, protetor dos pastores, dos viajantes, dos comerciantes, dos ladrões, oradores e atletas; e Héstia, que zelava pela chama sagrada que devia arder em todas as casas, em todas as cidades.

No mar reinava todo-poderoso um irmão de Zeus, Posseidon, a quem os navegantes temiam e pediam proteção.

Posseidon segurando um tridente. Placa coríntia. Artistas desconhecidos

Na terra a natureza obedecia à deusa Deméter, protetora dos agricultores, das colheitas de cereais e frutas; zelava pelos vinhedos outro filho de Zeus, o alegre e expansivo Dionísio.

Nas profundezas subterrâneas dominava, como senhor absoluto e sempre invisível, Hades (também chamado Plutão), que atendia ao misterioso reino dos mortos.

Outros deuses do Olimpo, filhos de Zeus, davam especial atenção a certas atividades humanas: Afrodite, deusa do amor; Palas Atena (nascida da própria cabeça de Zeus), deusa da inteligência, da razão, da sabedoria e da paz; Hefésto, deus do fogo, das forjas e dos ferreiros.

Palas Atena. Detalhe de cerâmica grega. Onésimos

Havia ainda divindades menores: as Musas, acompanhantes de Apolo, inspiravam as diferentes criações artísticas e a investigação científica: Clio, a história; Euterpe, a música; Talia, a comédia; Melpômene, a tragédia; Terpsícore, a dança; Érato, a poesia lírica; Polímnia, a mímica; Urânia, a astronomia; Calíope, a poesia épica e a eloquência. As Horas assistiam o desenrolar das quatro estações; as Graças (Cáritas em grego) - auxiliares de Afrodite - dispensavam cuidados especiais ao reino vegetal; as Parcas (Moiras em grego) fiavam, teciam e cortavam o destino dos homens.

Entre os deuses e os homens os gregos criaram ainda os semideuses, os heróis, tidos como seus antepassados, realizadores de proezas e feitos maravilhosos: Héracles (Hércules em latim), Perseu, Jasão, Teseu, Édipo, Orfeu, inspiraram desde a Antiguidade até os dias de hoje a obra de poetas, escritores, pintores, escultores, compositores.


Perseu transformando Fineu e seus seguidores em pedra, Luca Giordano

A religião era o elo da família, dos habitantes de uma cidade, de todos os gregos, pois o culto religioso desenvolvia-se nas casas, nos templos e nos santuários pan-helênicos, isto é, comuns a todos os helenos. Os gregos pediam favores aos deuses ofertando-lhes alimentos e bebidas (leite, mel, vinho) ou sacrifícios de animais. O sacrifício mais solene era a hecatombe (de hecatón = cem, e bous = boi).

Os gregos buscavam sempre conhecer a vontade dos deuses e, para isso, ora interpretavam sinais vários da natureza (presságios), ora consultavam nos santuários os próprios deuses, que por vezes davam sua resposta (oráculo) por meio de uma sacerdotisa. Um dos mais famosos centros de oráculos foi Delfos, onde uma sacerdotisa do deus Apolo, a Pítia (de Pythón = serpente), transmitia aos homens a resposta divina.

Havia grandes festas religiosas que abrangiam jogos e competições artísticas, procissões, espetáculos musicais e teatrais. Algumas eram anuais, características de certas regiões, como as Panatenéias (em honra de Atena) e as Dionisíacas (em honra de Dionísio), celebradas em Atenas. Outras festas, organizadas em certos santuários pan-helênicos, realizavam-se de dois em dois anos (Neméia, Jogos nemeus; Corinto, Jogos ístmicos), ou de quatro em quatro anos (Delfos, Jogos píticos; Olímpia (Jogos olímpicos). Desses jogos os mais famosos foram os olímpicos, em honra de Zeus, e marcavam o início do calendário grego.

HOLLANDA, Sérgio Buarque de (org.). História da Civilização. São Paulo: Nacional, 1974. p. 67-69.

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