"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

sábado, 7 de maio de 2016

Rebeldes jovens

Batalha Soufflot.  
Barricadas na Rua Soufflot em 24 de junho de 1848. 
Horace Vernet

Além dos grandes fatores intelectuais e socioeconômicos que se combinam para produzir um levante revolucionário, forças mais intangíveis geralmente também participam. Por exemplo, a juventude da maioria dos revolucionários é notável. Assumir riscos, seja como manifestante nas ruas, seja como dissidente desafiando um sistema, apesar das altas possibilidades de prisão, tortura, ou mesmo morte, raramente é uma atitude tomada pelos mais velhos, aos quais a vida ensinou a cautela nascida de anos de desapontamento.

Mas se as revoluções raramente são feitas pelos mais velhos, muitos revolucionários que tiveram êxito na tomada do poder envelheceram eles próprios no poder. Às vezes as revoluções são a consequência de um bloqueio de geração causado por gerontocratas que sobem ao poder e frustam ambições normais. A Europa Central em 1848 e de novo em 1989 vivenciou revoluções que tiveram aspectos de um rompimento dramático de uma barreira causada por uma geração agarrando-se ao poder por tempo demasiado.

Tais revoluções geracionais não se referem somente a ambições frustradas, do contrário as multidões nunca se reuniriam. Os mais velhos, que bloqueiam a reforma e os reformadores do poder dentro de um sistema, alimentam fora dele as causas mais profundas de revolução. O apego obstinado ao poder simboliza o bloqueio do regime ao progresso e à esperança.

ALMOND, Mark. O livro de ouro das revoluções: movimentos políticos que mudaram o mundo. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2016. p. 14.

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