"Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos se lembram de nós.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, se vão?"
Eduardo Galeano: Espelhos

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Caçadores-coletadores: evidências mais remotas

Caçar e colher alimentos eram as únicas formas de sobrevivência dos humanos até cerca de 12 mil anos atrás. Era um estilo de vida bem-sucedido que, por sua flexibilidade, tinha grandes vantagens sobre o das sociedades agrícolas que o substituíram. Atualmente, apenas poucas sociedades de caçadores-coletadores sobrevivem na bacia Amazônica e na África, o que fornece uma evidência muito importante do estilo de vida de seus antepassados pré-históricos.

Caçadores-coletadores precisam vencer longas distâncias para obter alimentos, por isso carregam poucos objetos. Em consequência disso, caçadores-coletadores pré-históricos deixaram poucos sinais de seus pertences. Raros achados de bastões para cavar, como os de Gwisho, na África central, e machados de madeira revelam que aquele povo cavava para colher tubérculos e cortava capim nativo. Ossos partidos, espinhas de peixe e pólen revelam detalhes da dieta desses indivíduos, bem como os profundos depósitos de detritos cheios de cascas de moluscos. Sítios como o Starr Carr, no noroeste da Inglaterra, de cerca de 9000 a.C., revelam que caçadores-coletadores podiam voltar várias vezes aos mesmos lugares, estabelecendo permanências sazonais perto dos locais onde a caça era abundante. Pequenas figurinhas e entalhes representando ursos e mamutes descobertos em Dolní Věstonice, na República Tcheca, e notáveis esculturas de peixes de Lepenski Vir, na Sérvia, mostram o nível de sofisticação cultural que as sociedades primitivas chegaram a alcançar.

Imagem: Vênus de Dolní Věstonice

Com o tempo, porém, a caça e a coleta foram substituídas pela agricultura. Provavelmente, quando agricultores passaram a se fixar em seus territórios, alguns caçadores-coletadores adotaram esse novo estilo de vida, enquanto outros foram forçados para as margens dos territórios. Em ambientes marginais, a dependência da agricultura sempre constitui um risco de fome se a colheita fracassar. Ainda hoje há grupos isolados, como os San do deserto do Kalahari, na África, que mantêm as antigas tradições da caça e da coleta.

PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar: história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 68.

Nenhum comentário:

Postar um comentário